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Relatos de Experiência em Etnoeducação

Relatos de Alunos

Eduardo Francisco de Souza é indígena da Aldeia Mapuera, na cidade de Oriximiná-PA. Ele participou e se formou com o programa “Educação Patrimonial em Oriximiná”, e hoje é professor em sua aldeia. Em seu áudio, ele fala sobre sua experiência com o projeto.

Maria Madalena concluiu o curso de especialização em Etnoeducação. Defendeu o memorial “NARRATIVAS ORAIS TRADICIONAIS DA COMUNIDADE NOSSA SENHORA APARECIDA – LAGO JACUPÁ” em que discutiu como as tradições permanecem vivas através de histórias orais. Ela conta sua experiência como professora e sua passagem pelo programa.

Rafaela Vitor Melo é esposa e mãe de indígenas. Ela mora na Aldeia Tawanã, em Oriximiná-PA. Ela fez a pós-graduação no Programa de Educação Patrimonial em Oriximiná e seu projeto foi o “Registro Histórico da Aldeia Tawanã”. No áudio, ela conta a importância do seu projeto e da sua vivência no programa.

Irene Viana Pinheiro é quilombola, e mora na Comunidade Remanescente de Quilombo Boa Vista Cuminã, em Oriximiná-PA. Sua monografia para o Programa de Educação Patrimonial em Oriximiná se tratou das “BRINCADEIRAS POPULARES NA COMUNIDADE ESCOLAR DA BOA VISTA CUMINÔ. Irene conta sobre a contribuição positiva do projeto para a sua comunidade.

Relatos da Equipe

A professora Rejane Moreira compartilha sua experiência com o programa de extensão “Educação Patrimonial em Oriximiná”. Ela conta como o programa a tocou e mudou sua perspectiva sobre educação, cultura e empatia.

A professora e coordenadora Adriana Russi conta sua experiência com o programa de extensão “Educação Patrimonial em Oriximiná”. Ela é parte ativa do Projeto desde sua fundação, em 2008 e fala sobre as dificuldades superadas, os aprendizados do projeto e sua relevância.

Sônia Maciel foi membro da comunicação e organização do projeto de extensão “Educação Patrimonial em Oriximiná” e conta um pouco sobre o processo de entrar na comunidade, sobre as propostas do programa e a relação da comunidade com essa nova forma de educação.

Johnny Alvarez foi coordenador, vice-coordenador, professor e pesquisador do projeto de extensão “Educação Patrimonial em Oriximiná” e fala sobre sua experiência com o projeto, educação dialógica, distância e imersão etnográfica.

Matheus Cruz é formado em Psicologia pela UFF-ICHF e foi bolsista do projeto “Educação Patrimonial em Oriximiná” entre 2015 e 2018. Ele escreveu um livro, entitulado “Ispia: As histórias e conversas com meus amigos quilombolas de Orixi”, em que fala sobre a sua experiência em Oriximiná.

Relato de Escuta sobre o Impacto da Mineradora Rio do Norte em Sapucá

Estevão Figueiredo Ribeiro

Porto Trombetas… Cidade fechada da Mineradora Rio do Norte, empresa chinesa de extração de bauxita. Só a base de autorização e uniforme que se entra: ”Olha… Tem muita gente de fora que eu conheço. Muita gente veio pra cá trabalhar no meu setor, lá na rede Pitágoras (rede de ensino), em Porto Trombetas. E olha, vou te falar, ser humano é muito difícil, é o bicho mais complicado que tem. Mas já tem quase 20 anos que tô lá. Do meu setor, sou o quarto mais antigo” foram uma das primeiras palavras de Jejeco, marido de M. de Fátima, professora que fomos acompanhar. Ele já anunciava uma série de relatos que iríamos ouvir naquele lugar que nos faria entender melhor o porquê que o ”ser humano é muito difícil”.

”O que você veio fazer aqui?” Um pergunta que Estela e eu respondemos no campo diversas vezes, negociando identidade e alteridade, vendo e mostrando como os outros são e quem somos. Mas aqui nesse caso, a pergunta é feita na base do contrato: você só pode acessar o território com condições, mesmo que essas condições impossibilitem você ser quem você é. É preciso mostrar apenas aquilo que a Mineradora quer que você mostre: trabalho, disposição, utilidade, eficiência, eficácia, rapidez, produtividade e fidelidade. Esse último termo ganha duplo entendimento depois de ouvir a história que ouvimos: fidelidade   do   funcionário, mas   também fidelidade entre o casal. Como assim? Isso mesmo, não se pode ser infiel. A vida coletiva, familiar e individual é assunto da mineradora. Se isso ocorre, a mulher/homem é expulsa/o da cidade e os filhos, se houver, ficam com o homem na cidade. Uma mulher/homem adúltera/o  ficam  punidos,  por  tempo  indeterminado, caso não  recorra  à   justiça.  Claro   que   o   tratamento  é 

diferenciado para quem traiu e trabalha na empresa e quem traiu e ”só” é a família: algumas vidas sempre importaram mais que outras e o que parece mesmo importar, na cidade murada, é a produtividade. A Mineradora faz e se confunde com a lei. Houve um acidente: um trabalhador voltava de noite para casa e, pelo fato de haver uma área de preservação ao lado da cidade, ele acaba, acidentalmente, matando um tatu que cruzava a rua. Ele fica triste de imediato. Não pelo animal, mas pelo fato de saber que perderá seu emprego e, logo, terá que sair da cidade. Nada é computado como acidente. Se você fez, você é responsabilizado. A empresa não pode suportar deslizes. Outros deslizes são também bem comuns. Um dia, um trabalhador, sentado na britadeira de bauxita, estava muito cansado pela rotina pesada estimulada pela própria empresa e acabou cochilando em serviço. Só que nesse tipo de serviço não se dorme… Ele, nesse caso, não foi expulso da cidade, foi expulso da vida: seu corpo foi triturado junto com as pedras de bauxita que as altas tecnologias processam.

O processo: desmata; deixa o solo bem liso; escava; retira enormes pedras com a escavadeira; leva para britadeira; depois de triturada, precisa ser lavada; por uma esteira é carregada até grandes navios que seguem a rota Oriximiná-Belém-China (ou E.U.A., dependendo que pagar melhor). Por fim, voltam nas peças dos celulares que usamos. O navio vai rápido. Quando se aproxima da cidade, não para, apenas diminui a velocidade. Sai da frente que estão passando. Se algum outro deslize ou falta de atenção houver, o grande navio, sinto muito, vai passar por cima. Afinal, sua navegação é de alta tecnologia e é da base Porto Trombetas que ele é controlado.

As pessoas entendem isso e fazem uso das migalhas que a mineração deixa pelo caminho a seu favor e lutam, por coisas muito importantes, através dela. Zeneide, de Itapecuru, está fazendo um curso para a produção de projetos: ”agora ela [a mineradora] tá lascada. Vai ter que nos financiar… Não dão nenhum tipo de apoio na nossa comunidade”. Maria de Fátima, professora de Sapucuá, é convicta: ”ahh… eu moraria lá [Porto Trombetas]. É limpinho, não tem assalto, estupro… Só entra gente do bem. Não é que nem Oriximiná…”. Porto Trombetas é, ao mesmo tempo, alvo de histórias extremamente violentas e, por vezes, trágicas, mas também lugar de desejo, alimentado pelo discurso das pessoas boas, do lugar sem violência urbana e da higiene (os lixos se confundem com as pessoas indesejadas). É resolver o problema social com muros. A pergunta retorna: ”o que você veio fazer aqui?”

São sementes variadas, diferentes preços. As mais pesadas são obviamente as mais baratas. Há sementes que 1kg é 3,50 R$. ”Imagine quantos estudos já não estão fazendo com elas”, disse-me meu amigo Carpes, quando relatei isso a ele. Acredito também que muitos e não vejo perspectiva de que tais estudos vão, de alguma forma, retornar para o lugar de onde as sementes foram capturadas. O que a Mineradora discursa como ”geração de lucro para as populações atingidas” ou ”reflorestamento das áreas desmatadas pela extração de bauxita”, não se efetiva. Primeiro, o lucro é extremamente baixo e não garante a subsistência dessas populações. As pessoas vêem apenas como mais uma medida instantânea para somar na renda mensal. Segundo, o solo atingido pela extração é demasiadamente danificado, o que impossibilita tais sementes, compradas das pessoas das comunidades, vingarem. ”É tirada uma foto apenas da superfície, mas lá pra dentro é tudo deserto, não nasce nada!”, nos contaram, quando pegamos carona com o barco que vai passando nas comunidades e comprando essas sementes. As famílias são avisadas: o barco das sementes vai chegar essas semana, tal dia. Começa um período de caça as sementes. É uma loucura: entram no terreno dos outros (existem relações comunitárias, coletivas, mas a propriedade privada é ativada, principalmente em momentos como esse); se a árvore de tal semente é muito alta, a derrubam para catar. Ou seja, aquilo que seria uma proposta de reflorestar e gerar riqueza, causam conflitos internos e derrubada de árvores. Tudo a custa do sentimento de esperança produzido pela lógica do dinheiro.

O argumento da tese das professoras Maria de Fátima e Elizângela é pertinente: como a compra e venda de sementes na região tem desestimulado os moradores de Sapucuá a pararem de dedicar-se à produção de farinha? Como os artesanatos agrícolas, para a produção de farinha tem se tornado cada vez menos interessantes para os jovens e dificultado a transmissão cultural? Perguntas essas que me parecem abrir caminhos para algo que está incrustado na subjetividade daquelas pessoas. Assim, elas, queira ou não, atuam constantemente para assegurar modos de existir ali naquele território.

Marci Lucena

 Graduanda em Enfermagem

“Diante de algumas limitações, em relação à área de atuação, consegui na medida do possível me integrar ao projeto e atingir boa parte dos objetivos tanto pessoais como coletivos. A princípio o receio era de não conseguir suprir as necessidades da pesquisa, receio este que se desfez durante a atuação e a ótima integração com a equipe. A bagagem adquirida na academia durante meu curso – na licenciatura, me ajudou na abordagem dos aspectos sociais, econômicos, culturais e epidemiológicos nas entrevistas e na comunidade em geral, para além de quantificar o artesanato. O que move estas pessoas, de onde sai e para onde vai o dinheiro, quais expectativas e qual grau de satisfação em relação a alguns fatores agravantes e condicionantes da saúde, qual a visão sobre a educação e o impacto da mesma em suas vidas, se gostam e/ou qual o valor  de produzir-se o que come, o que gera inquietação geral, todos estes fatores como contribuintes para uma possível melhoria/piora na qualidade de vida, o que vem a ser qualidade de vida para eles?Por fim, apesar de ter saído com mais dúvidas do que cheguei, a experiência foi válida e contribuiu positivamente para o estímulo a

reflexões e esclarecimentos sobre interdisciplinaridade dos aspectos biológicos e culturais, a influência deste sobre aquele, e reforçar a importância do olhar o indivíduo como ser pleno, a partir de todas as vertentes.”

Igor Nunes

Produção Cultural CURO/UFF

 “O projeto ‘Educação Patrimonial em Oriximiná’ me chamou bastante atenção desde o começo da faculdade; não só pela possibilidade de crescimento educacional, como profissional e pessoal. A possibilidade de conhecer novas culturas deveria ser apreciada por todos.

A cidade de Oriximiná superou todas as minhas expectativas, tanto pela hospitalidade quanto pela receptividade, não só no centro como por toda a localidade próxima; acredito ser uma característica da região Norte.

Ter    participado    desse    projeto    foi    uma    experiência    fantástica.    A interculturalidade que me foi proporcionada me parece a melhor parte. Aproveitar esse momento da vida é o que há!”

Bárbara Hilda

Produção Cultural CURO/UFF

“O Projeto de Educação Patrimonial não foi só enriquecedor no meu plano acadêmico, mas sobretudo no meu plano pessoal. Me possibilitou conhecer outras realidades e enxergar de forma mais completa a situação atual do nosso país e como eu, uma profissional, posso trabalhar para fazer  diferença numa parte do Brasil tão mal assistida pelo poder público. Me sinto grata pela oportunidade.”

Débora Parente

Produção Cultural CURO/UFF

“Se algum dos nossos colegas de curso embolar pra entender o significado de comunidade tudo o que posso recomendar é trabalhar no interior do Pará. Aqui me ensinaram e nem me disseram uma frase sobre o assunto. E aprendi mais: da disponibilidade, da cordialidade, da confiança, da ajuda…”

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